quinta-feira, 22 de julho de 2010

Sem medo de buscar :)

'naquela manhã ela acordara com um sentimento de não se sabe o quê. S. estava louca para sair logo de casa, respirar um ar diferente, ver outros rostos. tanto é que se arrumou rapidamente e pegou a condução que a levava a algum lugar para buscar alguma coisa. ela não sabia qual era o destino daquele trem, mas queria sair daquele lugar, de qualquer maneira. o destino, como eu disse, não importava tanto, o que importava era o que ela ia buscar. não, para a surpresa de si mesma e para minha própria surpresa percebi que dessa vez ela não ia à procura da tão sonhada felicidade ela ia buscar a paz; a guerra diaria entre sua razão e seu coração estava destruindo-a internamente. acho que ela havia desistido da felicidade. não pra sempre, mas temporariamente sim. quem sabe encontrando a sua paz ela não conseguia a felicidade. pois bem. faz um tempo que ando observando-a mas não consigo decifra-la. mas que menininha mais complicada de entender. a viagem estava cansando-a. queria chegar logo, não aguentava mais ficar sentada e parada, sem contar que, como de costume, sua razão e seu coração estavam brigando. mas que droga, ela não podia deixar seus pensamentos livres por alguns minutos. ela precisava disso, quem sabe uma lavagem cerebral? ela queria soluções rápidas, mas não tão drásticas assim. o frio que sentia ao sair de casa, então tirou aquele moleton e pra ver se aquele mol de sensações a deixasse livre, ao menos por um segundo. mas que diabos uma menina de 14 anos havia tanto de pensar. acho que ela estava cansada de tudo, conseguia ver isso através dos seus olhos. noites mal dormidas já não era novidade, ela estava se acostumando, até mesmo com isso. enfim, chegou a seu destino. aquele cidade estava mais movimentada que normalmente, mas ela parecia estar sozinha no meio do nada. meu Deus, o que há com ela? parece flutuar... estava tudo leve agora, de tanto estar pesado, sua cabeça estava vazia, e ela se sentia deslocada. porque nada dava certo? em segundos, tudo voltou ao normal, e ela estava com muitas coisas na cabeça.. acho que não sou desse lugar, acho que não sou de lugar nenhum. ela queria dar um jeito de voltar ao ventre de sua mãe e escrever outra história, em um planeta diferente de preferência. e com uma personalidade diferente também. ela precisava ouvir algo de alguém, talvez um: hey menina, preste atenção! nem todos são como você! ou um doce: calme, calme, tudo ficará bem. ou talvez não precisasse ouvir nada, porque tudo estava dentro ela, ela só precisava encontrar. ela tinha que parar de desistir de si mesma e começar a desistir dos outros. definitivamente, ela era diferente, e muito diferente. ela se importava tanto e ninguém dava a mínima por ela. impressionante como as pessoas gostam de ver a infelicidade dos outros. ela precisava de algo, se eu soubesse eu faria de tudo para dar a ela, mas nem ela sabia. diante de tantos rostos diferentes, sem sorrisos, tudo estava escuro e cheio de neblina naquela cidade, não era um ar acolhedor. rapidamente vestiu seu casaco outra vez e continuou a procurar a paz. pensava: meu Deus, mas aonde ela se enfiou? se sentia cada vez mais vazia e mais carente. ela precisava tanto de alguém como ela mesma, ela queria que a clonassem para simplesmente ouvir seus próprios conselhos. mas que droga, nada muda, nada dá certo na vida dela. a fome já nem era tão importante assim, ela nem se lembrava ao menos o que era fome. S' tinha um alguém, mas eles haviam discutido no final de semana passado. ela precisava entendê-la. ele não podia fazer o que andava fazendo com ela. a repreendia e não ligava para suas opiniões, mas infelizmente ela o amava. meu Deus, porque o amor é assim? nunca amamos pessoas ideais dizia S' para si mesma. ele não faria aquilo, a machucaria, ele não seria capaz de tanto. procurou por mais alguns lugares e nada de encontrar sua paz. bem, como de costume, desistiu. pelo caminho à estação a cidade estava vazia e mais nebulosa ainda. mas não era só a cidade que estava vazia, S' se sentia mais vazia do que ao chegar naquele lugar. será que ela deveria desistir de tudo? ninguém se importa, nem ao menos ele. eu me importo, mas não posso fazer nada. bem, comprou sua passagem e entrou no trem. um sentimento de fracasso tomara conta de seu ser, e, sem perceber uma lágrima rolou de seu rosto. no mesmo instante, uma forte chuva caia sobre a terra. o céu parecia chorar junto ao sofrimento da menina. ele deve ter pensado, humanos são humanos demais pra tomar a dor de seu semelhante, eu tomarei, para consolá-la. o céu e a menina choravam, até que chegou em sua casa. sem paz, sem nada. S' voltou de mãos abanando.

seu celular tocou e era ele.

S': alô?
P': porque você não me atendeu até agora.
S': não estava em casa.
P': então onde estava?
S': eu não sei, fui a procura de alguma coisa e não encontrei.
P': porque saiu sem me avisar?
S': você se importa? e você, fez aquilo?
P': fiz, porque?
S': não acredito que foi capaz, você não podia ter feito isso comigo, eu não mereço o que você me faz.
P': então você quer dizer que é muito pra mim?
S' respondeu convicta: não sei se sou muito ou pouco pra você, o que eu sei é que sou muito pra mim. aliás, sou tudo que preciso.
- depois de dito isso, S' desligou o telefone.

bem, quem diria, ela encontrou o que tanto havia procurado... seu próprio valor. quem estipula o nosso valor somos nós mesmos. ela não precisava de um clone, ela precisava da pessoa que ela vê refletida no espelho.
tudo mudará. agora tudo vai ficar mais fácil pra ela.

[sábado, 16 de maio de 2009]

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